Raimunda Alves Melo*
Nos últimos anos, tem-se discutido bastante sobre a relação família e escola e suas responsabilidades na educação escolar de crianças. Essas duas instituições possuem papel relevante no processo educativo, pois é nelas que se formam os primeiros grupos sociais dos quais os alunos fazem parte. Nesse sentido, a educação possui um caráter formal e socializador, e tanto a família como a escola são essenciais na vida dos sujeitos inseridos nesse processo.
O envolvimento e a participação da família no ambiente escolar é considerado componente importante para o sucesso escolar das crianças. A Constituição Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/1996) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 13.257/2016) rezam que as escolas têm a obrigação de se articular com as famílias e os pais, o direito a ter ciência do processo pedagógico, bem como de participar da definição das propostas educacionais. A legislação vincula, dessa forma, não só a obrigatoriedade estatal e social, mas também invoca a família como núcleo primeiro na formação do cidadão e, como tal, indispensável e insubstituível na missão determinada nas prerrogativas da Carta Magna do País.
No entanto, ainda existe um distanciamento entre a família e a escola nos processos educativos. Em muitas escolas, os discursos dos educadores abordam a falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos, alguns até atribuem o baixo desempenho dos alunos a esse fator; contudo, não se mostram satisfeitos quando algum membro familiar mais crítico e esclarecido exige qualidade no ensino ou questiona a proposta pedagógica da escola.
Alguns gestores percebem a participação da família na escola como interferência e tentativa de comprometer a autoridade deles. Já a maioria dos pais, por sua vez, não participa da vida escolar dos filhos, uns por não conhecerem seus direitos e deveres, outros porque não sabem como fazer isso, por não serem alfabetizados ou possuírem níveis de escolaridade insuficientes. E ainda há os que até buscaram uma postura mais ativa diante da escolarização dos filhos, mas se enclausuraram, pois nas poucas vezes que tentaram não foram bem acolhidos e se retraíram.
Partindo desse contexto, compreendemos necessário que cada uma dessas instituições assuma as responsabilidades que lhe cabem, no sentido de garantir que a aprendizagem das crianças aconteça numa educação voltada para o exercício ético da democracia e da cidadania, sendo fundamental que ambas sigam os mesmos princípios e direção em relação aos objetivos que desejam atingir, pois, caso contrário, as oportunidades irão se fechando, transformando a falta de uma educação de qualidade em uma grande barreira para a ascensão social.
Ainda que tenham objetivos em comum, escola e família possuem responsabilidades específicas e precisam fazer sua parte, para que juntas, atinjam o objetivo principal, que é educar crianças, garantindo condições para que tenham um futuro melhor.
É papel da família escolher a escola que a criança vai estudar, com base em critérios que lhe garantam a confiança de que o/a filho/a terá condições para aprender; dialogar com a criança ou o jovem para se manter a par dos conteúdos que estão sendo trabalhados na escola; cumprir e orientar para que o estudante também cumpra as regras estabelecidas pela escola de forma consciente e espontânea; participar das reuniões e da entrega de resultados, informando-se das dificuldades apresentadas pelo/a seu/sua filho/a, bem como seu desempenho; acompanhar e orientar as atividades de casa, entre outras.
A escola tem como responsabilidades: cumprir a proposta pedagógica apresentada para a família, sendo coerente nos procedimentos e nas atitudes do dia a dia; propiciar ao aluno liberdade para se manifestar na comunidade escolar, de forma que seja considerado como elemento principal do processo educativo; receber os pais com prazer em reuniões periódicas, esclarecendo o desempenho do aluno e, principalmente, exercendo o papel de orientadora diante de possíveis situações que possam vir a necessitar de ajuda, de forma a oferecer uma educação de qualidade para seus alunos; entre outras.
O fato é que o acompanhamento familiar sobressai-se como fortalecedor da vida escolar do aluno no seu cotidiano. Assim, a escola tem um papel decisivo no cumprimento das ações projeto pedagógico, pois deve promover a aproximação da comunidade por meio de encontros, reuniões coletivas e individuais, sendo capaz de orientar as famílias na otimização da rotina escolar, bem como da relação familiar, tornando-a mais social e afetiva.
Se família e escola objetivam uma educação de qualidade, o ideal é que trabalhem juntas, planejem a educação escolar de forma simultânea, propiciando às crianças segurança na aprendizagem, favorecendo a formação de cidadãos críticos e como competências para enfrentar a complexidade de situações que surgem na escola e no cotidiano.
Essa articulação amplia as possibilidades das crianças serem assistidas em suas necessidades educativas, usufruindo da proteção necessária à sua condição de infante cidadão com direitos e deveres garantidos constitucionalmente. Assim é necessário assegurar a participação da família no espaço da escola, interagindo com o gestor, com o corpo docente, com a parte administrativa e demais serviços. Família e escola, responsabilidades compartilhadas na garantia de uma educação de qualidade.
Raimunda Alves Mello é mestre em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Piauí. Professora Assistente da Universidade Federal do Piauí. Contato: raimundinhamelo@yahoo.com.br.
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Leia os textos anteriores desta colunista:
• “Sequências lúdicas de aprendizagem: uma proposta do Palavra de Criança”
• “O papel dos gestores municipais piauienses na implementação do Pnaic”
• “Formação continuada de professores e a Educação do Campo para a Convivência com o Semiárido: desafios e perspectivas”
• “Literatura infantil lúdica: uma importante ferramenta para a formação de leitores”
Qual é o papel do coordenador pedagógico no Programa Palavra de Criança (Piauí)? Leia a entrevista de Raimunda Alves Melo à Plataforma do Letramento.