Poesia: palavra que transborda as margens do escrito e do falado, mistura o real e o imaginário, ignora limites entre certo e errado e se joga na brincadeira do era uma vez. No tempo-espaço em que o passado, o presente e o futuro se unem num campo de mil e uma possibilidades.
A brincadeira com as palavras não é nenhuma novidade. Trava-línguas, quadrinhas, parlendas, adivinhas e outras criações com palavras fazem parte da cultura oral de todos os povos. E a criança é uma grande inventora, fazendo combinações inovadoras, tirando as palavras de suas roupagens habituais, o que a aproxima do poeta. É com essa inspiração que o mineiro Álvaro Andrade Garcia nos brinda com Poemas de brinquedo.
Aliando a palavra escrita à palavra entoada, as imagens poéticas às imagens cinematográficas, a obra ultrapassa o impresso e transborda para outras mídias, criando o que o poeta performático Ricardo Aleixo chama de “poesia expandida”. O livro transmídia (com versões impressa e digital) reúne poemas concretos da obra de Andrade Garcia, reinterpretados pelo próprio autor com base em audiovisuais produzidos por ele, vocalizações de Aleixo e ilustrações criadas e animadas pelo designer gráfico Márcio Koprowski. Por meio do trabalho multimídia, as várias camadas que compõem a criação poética saltam aos olhos e revelam que palavras têm som, movimentos que se casam para compor os inúmeros sentidos dos textos.
Vários poemas que integram o livro foram publicados em obras anteriores, como O verão dentro do peito (1998) e Álvaro (2004), outros ainda eram inéditos. Para o autor, a brincadeira com palavras é um exercício de “lavar palavras”, levá-las de volta ao nascedouro, à língua dos sons em formação. “Esses poemas brincantes surgiram para me libertar da própria educação. Cresci numa casa em que a palavra sempre foi tratada com muita seriedade, sempre muito adulta e cheia de obrigações. Todas as paredes tinham estantes cheias de livros, as conversas eram filosóficas, antropológicas, sociológicas, religiosas, politizadas, tudo com muita estrutura e conceito. Mas chegou uma época em que quis brincar com a palavra, recuperar seu viés criativo, inaugural. Visitei, então, quantas vezes… a terra da infância e a fala do povo, onde são encontradas ainda frescas e livres, muitas vezes nascendo, sem compromissos. E como brinquei com elas… Para mim, estes poemas são um exercício de descondicionamento, de estímulo ao experimento e à imaginação”, afirma o poeta.
O trabalho de Álvaro Andrade Garcia tem influências de autores como Guimarães Rosa − na invenção de palavras −, Décio Pignatari − no conceito de comunicação poética − Lewis Carroll e os koans − ao descondicionar a lógica e abrir o olhar a novas formas de pensar.
Poemas de brinquedo tem versão impressa e audiovisual interativa. No audiovisual, disponível gratuitamente em formato aplicativo, é possível se divertir com os poemas animados e musicados. Já a versão impressa, que pode ser encontrada em livrarias físicas e virtuais, ganha forma de baralho com cartas coloridas e ilustradas em estilo neoconcretista que convidam a ler os poemas e brincar com eles.
Os leitores brincantes podem ordenar as cartas da forma que quiser, construindo os múltiplos sentidos que a poesia permite. Há ainda inúmeras possibilidades pedagógicas para que os adultos (pais, professores e outros) atuem de forma lúdica como mediadores de leitura com crianças alfabetizadas ou pré-alfabetizadas. Algumas possibilidades de brincadeira: inventar palavras por sufixação ou composição; misturar imagem e palavra; brincar de dicionário com termos difíceis, pouco usuais (“palavras medonhas”); contar histórias; divertir-se com variedades orais do português brasileiro (“poemas nordestinos”, “poemas mineiros”), entre muitas outras.
Que tal brincar com palavras? Visite o site da editora, baixe o aplicativo e divirta-se!
POEMAS DE BRINQUEDO
Autores: Álvaro Andrade Garcia; Ricardo Aleixo (design sonoro); Márcio Koprowski (projeto visual)
Editora: Peirópolis
Ano: 2016
Sobre o autor O mineiro Álvaro Andrade Garcia é escritor e diretor de audiovisual e multimídia. Com doze livros de poesia e três de prosa publicados, além de escrever para jornais como Estado de Minas, Correio Braziliense, Jornal do Brasil e O Tempo. Em 2001, participou da instalação Bunker Poético, na 49a Bienal de Veneza, com o poema “O buda da palavra”. Atualmente, trabalha na finalização de dois romances.
Ouça a conversa do autor na rádio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).